Blindagem

Isolamento contra radiação deve considerar o feixe radioativo, a potência do equipamento e o ambiente vizinho. As paredes de concreto, além das grandes espessuras, podem receber reforço do bário e chumbo
Procedimentos hospitalares (ou de clínicas de diagnósticos) com uso de radiação devem ser feitos em ambiente especial, com isolamento 100% eficiente. A radiação é uma onda eletromagnética que, nesses locais, é fisicamente barrada e não passa para o ambiente externo ou contíguo.
Existem tipos diversos de radiação. "Máquinas de raio-X, de hemodinâmica e tomografia produzem radiação ionizante, a partir de um feixe de elétrons", explica Jorge Bacha, superintendente de operações no HCor. O que existe é uma diferença de faixas de energia. "Equipamentos que emitem raio-X têm faixas baixas, na ordem de 100 kV - 150 kV; os de terapia, milhões de volts", explica Gisela Menegussi, física do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).
Com energia diferente, as proteções são diferentes, e o que difere é que uma energia alta demanda mais material para ser barrada. "Quanto maior o número atômico do material, mais barra a radiação. A radiação interage com os elétrons do átomo e não passa para frente", diz Gisela. Assim, em faixas mais altas, "é necessário material de alto número atômico e de espessura muito maior", completa a física.
Outras radiações, como as produzidas por campo magnético e por elementos radioisótopos, estão presentes na ressonância magnética e nos equipamentos de medicina nuclear (gama- câmaras e PET-CT - em inglês, tomografia por emissão de pósitrons).

Cálculo da blindagem
O tipo de blindagem e a espessura são definidos a partir da análise da energia da radiação, do tempo de exposição da radiação dentro da sala, e do tipo de ocupação nos ambientes vizinhos. É diferente se a sala com radiação está ao lado de uma sala de espera, de uma UTI, ou se está na extremidade do edifício, acima do térreo, longe de outra construção.
Dependendo de onde se faz a obra, é preciso colocar mais ou menos barreiras. "As áreas que têm mais radiação não podem ter nenhuma ocupação vizinha", conta Renato Dimenstein, físico em medicina do Hospital Paulistano e consultor do Samaritano.
O primeiro passo para todo o projeto e dimensionamento da blindagem é o projeto de arquitetura. "Arquitetos e engenheiros determinam a área destinada para os equipamentos. O passo seguinte é verificar qual equipamento foi determinado pelo hospital, e, a partir das informações do fabricante e da energia, o físico ajusta o layout ao equipamento", explica Gisela. São os físicos que fazem o dimensionamento da proteção necessária, e as espessuras de proteção são passadas ao calculista.
Aqui, um ponto crítico é a combinação do projeto e blindagem, de forma a manter a segurança com baixos custos. No caso de salas com PET-CT, por exemplo, o exame leva de cinco a dez minutos, mas o período de repouso do paciente é de uma hora. Assim, são necessárias de três a quatro salas para comportar a capacidade do equipamento. "Na especificação, isso pode ter um peso estrutural enorme", destaca Dimenstein.
Uma vez concluído, o memorial de cálculo da barreira deve ser apresentado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No caso do PET-CT, o memorial deve ser submetido à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). "Lá, os técnicos avaliam os cálculos e autorizam a construção. No final, quando o equipamento vem e é instalado, primeiro aceitamos o equipamento, depois verificamos a calibração da energia e da parede, fazemos testes e aguardamos a licença de funcionamento", conclui Gisela.
Uma característica do equipamento que deve ser analisada é a sua movimentação. Dependendo de como ele gira e se move, o feixe radioativo emitido alcança partes diferentes da sala, e essas partes precisam de mais proteção. De qualquer forma, além da radiação direta, existe aquela derivada do feixe primário, como uma radiação que se espalha pelo ambiente, e que por sua vez também demanda uma proteção para não passar ao ambiente contíguo.
Também existem alguns cuidados de arquitetura, como o posicionamento das portas, por serem pontos vulneráveis à fuga de radiação. "Para que a porta não fique muito pesada, deve ser posicionada como em um labirinto, com um corredor entre ela e o aparelho", conta Gisela. Para uso clínico, a sala deve ter proteção de chumbo de 2 mm. "Não é necessário mais do que isso, pois fica afastada do equipamento, e já há uma decadência grande da radiação"

Materiais
Como a proteção à radiação é uma blindagem física, materiais diferentes têm eficiências diferentes, o que não faz com que um seja melhor que outro. "A partir do fator de radiação da sala, calculado pelo físico, determinamos a espessura da proteção da solução, seja concreto, ferro ou chumbo", conta Videira.
Existe uma equivalência entre as espessuras de um ou outro material, encontrada em tabelas consagradas na literatura técnica. "Se o fator for, por exemplo, 0,40, a especificação caminha para o chumbo. Mas se for grande, então é preciso saber se a estrutura do prédio suporta aquela carga", conta Videira. Uma tabela de equivalência mostra a espessura necessária para o concreto, podendo-se analisar a viabilidade de uso de outro material.
Um material muito utilizado é a barita, uma argamassa de cimento e areia com alguns compostos químicos, entre eles o chumbo. Sua diferença para uma argamassa comum é a cor, um pouco mais marrom, e a textura, pois ela é um pouco mais grosseira e difícil de trabalhar.
Este material, quando é necessário em espessuras maiores, é difícil de compactar e pode rachar e se soltar. Por isso, é mais usada em salas de baixa energia, como raio X. "Para raio X e hemodinâmica, é necessário uma proteção de 1 mm a 2 mm de chumbo ou 1 cm a 2 cm de barita. Essa massa tem uma cura de duas a três semanas, e não racha com tanta facilidade".
Já para equipamentos de medicina nuclear, como PET-CT, recomenda- se ou chumbo ou concreto. Esses equipamentos necessitam de uma barreira maior, de até 5 mm ou 10 mm de chumbo, o que pode pesar muito, ou uma espessura muito maior em concreto, que traz o problema do espaço. Neste caso, apesar de barata, a barita não é recomendada, pois sua grande espessura, em função da cura, racha e cai. Além do mais, "a relação de 10 : 1 com chumbo funciona em pouca radiação. No PET Scan, a relação é de 40 : desta forma, 1 mm de chumbo equivale a 40 x esta espessura em barita.
Também existe a possibilidade de se tratar o concreto para funcionar como blindagem. "É possível, mas é muito caro", "Assim, não tem muito sentido quando, em um hospital, sempre se muda o layout, por causa dos equipamentos", conclui o superintendente.
De qualquer forma, em toda a execução, independentemente do material escolhido, os pontos mais importantes são manter a espessura mínima definida em projeto e não deixar nenhuma falha, nenhum ponto sem proteção.
Outras radiações
Ressonância magnética
"Para esse tipo de equipamento, é preciso fazer com que o campo magnético gerado pela ressonância fique concentrado dentro da sala". Para que isso aconteça, existe uma proteção em torno deste ambiente que funciona como uma gaiola da Faraday, feita com material ferromagnético. "É diferente de sala de raio-X (radiação ionizante); nesta estrutura, as paredes são construídas com chapas de aço, ou as chapas são sobrepostas de forma que contenha o campo magnético dentro do ambiente da sala".
Eletroneuromiografia
No caso da eletroneuromiografia, a necessidade é inversa da ressonância: o aparelho é sensível à interferência eletromagnética externa de ondas de celular, rádio, TV etc., e precisa operar em ambiente isolado. O equipamento, que mede os impulsos gerados pelos músculos, trabalha com um sinal de intensidade muito pequena. Para este caso, protege-se a sala em todas as dimensões (teto, piso, paredes) normalmente com cobre, que tem capacidade condutora. As placas de cobre são direcionadas para o sistema de aterramento elétrico, para que as ondas não interfiram no ambiente. "Não existe cálculo específico; normalmente os fabricantes do aparelho indicam a espessura da proteção de cobre, e depois são feitos testes de eficácia".
Descrição: Projeto de barreiras/blindagem
A aprovação de projeto está condicionada à análise e parecer favorável sobre os seguintes documentos:
• Projeto básico de arquitetura das instalações e áreas adjacentes, conforme Resolução RDC50 do Ministério da Saúde ou outra que venha a substituí-la, incluindo:
- planta baixa e cortes relevantes apresentando o leiaute das salas de raios-x e salas de controle, posicionamento dos equipamentos, painel de controle, visores, limites de deslocamento do tubo, janelas, mesa de exame, "bucky" vertical e mobiliário relevante;
- classificação das áreas do serviço indicando os fatores de uso e os fatores de ocupação das vizinhanças de cada instalação;
- descrição técnica das blindagens (portas, paredes, piso, teto, etc.) incluindo material utilizado, espessura e densidade.
- Relação dos equipamentos de raios-x diagnósticos (incluindo fabricante, modelo, mA e kVp máximas), componentes e acessórios, previstos para as instalações.
- Relação dos exames a serem praticados, com estimativa da carga de trabalho semanal máxima, considerando uma previsão de operação de cada instalação por, no mínimo, 5 anos.
- Planilha de cálculo de blindagem assinada por um especialista em física de radiodiagnóstico, ou certificação equivalente, reconhecida pelo Ministério da Saúde.
REGRAS DE SINALIZAÇÃO PARA PROTEÇÃO CONTRA RADIAÇÕES IONIZANTES
Instrumentos padronizados para orientar indivíduos em situações de exposição a radiações ionizantes
As normas e regulamentações nacionais de proteção radiológica preveem a utilização de instrumentos padronizados de sinalização, a serem obrigatoriamente instalados em hospitais, clínicas e outros estabelecimentos, como forma de orientar indivíduos em situações de exposição a radiações ionizantes.
Esses instrumentos compreendem equipamentos de sinalização luminosa, informações sobre restrições para a permanência de acompanhantes em locais de exame, regras de acesso a áreas restritas e de uso da vestimenta plumbífera, além de orientações sobre a exposição de pacientes grávidas, por exemplo.